
Quando, em 1856, entrei em Monserrate pela primeira vez, senti que se tratava de um verdadeiro paraíso sobre a Terra.
Para um inglês milionário e excêntrico como eu, Francis Cook, aquela paisagem de Sintra parecia um cenário romântico: a luz difusa que se esbatia sobre os penedos de granito, a neblina que envolvia o palácio em ruínas, o cheiro a terra húmida que pairava sobre o escasso arvoredo, os raios de sol que penetravam no ar puro da serra, a imensidão das vistas que se estendiam sobre o mar.
Mas, um pouco por todo o lado, o tempo encarrega-se de deixar as suas marcas: o palácio, abandonado à sua sorte, estava parcialmente coberto de mato e as suas duas torres tinham ruído. Fui invadido por uma estranha vontade de trazer novamente à vida aquele pedaço de serra que me fazia sentir em Inglaterra.
Para um homem de 40 anos como eu, a ideia de reconstruir uma casa em Portugal, para passar longas temporadas, apresentava-se como um desafio.
Pensei num palácio encantado , cheio de tesouros, objectos antigos e livros raros, onde pudesse receber os meus amigos e dar festas como nos contos de fadas.
Decidi então pôr mãos à obra: contratei um arquitecto para fazer o projecto, um botânico para estudar as plantas, um jardineiro-chefe para orientar a construcção e a manutenção do jardim e um pintor para inventar um nova paisagem.
Era preciso envolver o palácio por uma vegetação exótica e exuberante que fosse tão bonita como uma pintura! Quis trazer o mundo inteiro para Monserrate!
Mandei vir espécies botânicas dos cinco continentes: da Austrália fetos arbóreos; do Chile, palmeiras; do México, pinheiros; da América do Norte, magnólias; da Índia, canforeiras; das ilhas do Pacífico, hibiscos; do Japão, cameleiras.

Monserrate é uma autêntica estufa em céu aberto e o seu clima, único e privilegiado, contribuiu para a excelente adaptação das árvores: tudo parece crescer como em mais nenhuma parte do Mundo!
As árvores de Monserrate são monumentos naturais, autênticas obras de arte, que têm por missão guardar o meu paácio das mil e uma noites. Gostaria que a "araucária", plantada no grande relvado junto ao lago, viesse um dia a ser a mais alta da Europa.
Quando no éculo XVIII, abri o meu jardim ao público, quis partilhar com os sintrenses a beleza inconfundível desta natureza serrana.

Mas temo pelo seu futuro, tantas vezes ameaçado pelo Homem e pelo fogo.
Espero que a virgem negra de Monserrate continue a proteger o Monte da Lua, para bem da humanidade.